Impacto psicossocial nas empresas: Panorama com Dados e Análise
A preocupação com a saúde mental de trabalhadores ganhou relevância nos últimos anos. Não à toa. Dados do Ministério da Previdência Social, divulgados pelo portal de notícias G1, mostram o impacto psicossocial. De cerca de 3,5 milhões de afastamentos do trabalho em 2024, quase 500 mil foram relacionados à saúde mental.
Agora, as empresas são
obrigadas
a dar atenção à saúde psicossocial dos colaboradores. A Norma Regulamentadora 1 (NR-1) exige que os fatores de riscos psicossociais constem no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) a partir de 26 de maio de 2026.
Nesse Panorama, apresentamos gráficos e análise de especialistas sobre saúde mental e sobre a inclusão dos riscos psicossociais no PGR. Confira!
Afastamentos por Saúde Mental no Brasil
Entre 2014 e 2019, os afastamentos oscilaram, mas se mantiveram estáveis, com picos em 2014 e 2018. A pandemia provocou forte queda em 2020, seguida por recuperação em 2021. Já em 2024, o número disparou 68% em relação ao ano anterior, alcançando o maior nível da década. Veja no gráfico:

Os dados divulgados não mostram quantos afastamentos estão diretamente relacionados ao trabalho.
Afastamentos por Tipo de Transtorno
A ansiedade é o transtorno mental que mais gerou impacto psicossocial no trabalho, gerando aumento dos afastamentos do trabalho em 2024. Depressão (recorrente ou não), transtorno bipolar e vício em drogas completam o quadro das cinco causas mais comuns para as licenças dos trabalhadores. Confira o gráfico.

Perfil das Pessoas Afastadas
A idade média de afastamento do trabalho é 41 anos. Mais mulheres saem de licença médica do que homens. No entanto, eles ficam mais tempo fora do trabalho por transtornos mentais. Confira os dados:

Entenda os Dados:
Fatores sociais e de gênero ajudam a explicar por que as mulheres são mais afastadas do trabalho por condições de saúde mental. Entre eles:
- Múltiplas jornadas (trabalho, casa, filhos);
- Violência contra a mulher;
- Desigualdade de remuneração e de reconhecimento no trabalho.
Impactos para Empresas e Trabalhadores
A saúde mental dos trabalhadores deixou de ser um tema periférico para se tornar prioridade nas estratégias de prevenção. A atualização da NR-1 representa uma mudança importante na forma como riscos relacionados ao trabalho são identificados e gerenciados. Portanto, existe um impacto direto nas empresas. A seguir, abordamos o tema com análise de especialistas e informações relevantes.
PGR e Fiscalização
A partir de 26 de maio de 2026, todas as empresas são obrigadas a incluir os fatores psicossociais no PGR, e serão fiscalizadas por isso. Essa exigência veio com a atualização da NR-1 em 2024 e reforça uma preocupação crescente: a saúde mental dos trabalhadores.
Em entrevista ao G1, Viviane Forte, coordenadora geral de fiscalização em Segurança e Saúde do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, disse que a atualização da Norma Regulamentadora busca trazer mais clareza sobre o tema da saúde mental e os critérios exigidos das empresas para cuidar desse aspecto.
Denúncias encaminhadas ao Ministério desencadearão a fiscalização das empresas. Os auditores fiscais vão verificar os locais de trabalho e dados de afastamentos por doenças ou acidentes, além da rotatividade de colaboradores. Conversas com os trabalhadores e análise de documentos para identificar possíveis situações de risco também serão aplicadas.
Vanius Corte, auditor-fiscal do Trabalho, destaca que o novo texto da NR-1 permite a vinculação direta entre as condições de trabalho e adoecimento. Segundo ele, é importante que as empresas busquem se adequar para proporcionar um ambiente de trabalho saudável e respeitoso.

Impacto Previdenciário
Do ponto de vista previdenciário, o afastamento por transtorno mental segue as mesmas regras dos demais casos de afastamento por doenças. As regras são as seguintes:
- O pagamento do salário é feito pela empresa até o 15º dia do afastamento. Depois, é transferido para o
INSS;
- Se a doença for correlacionada ao trabalho, o
empregador é obrigado a pagar o FGTS durante o período do afastamento. Caso não seja relacionado ao trabalho, essa obrigação é suspensa;
- Se o afastamento estiver relacionado ao trabalho, o colaborador tem direito a estabilidade de 12 meses após o retorno às atividades;
- Se o afastamento for enquadrado como doença relacionada ao trabalho (B91) e houver CAT, isso
aumenta o FAP (Fator Acidentário de Prevenção) da empresa, o que eleva a
alíquota do RAT (Risco Ambiental do Trabalho) no ano seguinte.
Causas Multifatoriais
A psicóloga Ana Paula Oliveira aponta que o aumento nos afastamentos por saúde mental tem causas multifatoriais. Segundo ela, as atuais configurações de trabalho contribuem para isso, devido aos chamados fatores psicossociais. Como exemplos, ela relaciona os seguintes:
- Demandas de trabalhos excessivas;
- Carga horárias elevada;
- Falta de descanso;
- Ritmo de trabalho acelerado;
- Relações de trabalho conflituosas;
- Formas de gestão;
- Violência;
- Conflito trabalho-família.
Especialista em Psicologia Organizacional e do Trabalho, Ana Paula adiciona que a instabilidade econômica e a precarização do trabalho desencadeiam insegurança, preocupações financeiras e medo do desemprego nos trabalhadores.
Além disso, características individuais interferem no processo saúde-doença. “O sofrimento mental surgirá quando o indivíduo não possuir mais recursos suficientes para lidar com as demandas laborais, ocasionando um desequilíbrio nesta relação e, consequentemente, levando a danos na sua saúde mental”, explica.

Estratégia de Prevenção
O ergonomista Marcelo Oliveira aponta que agora a ergonomia passa a integrar uma estratégia mais ampla e sistematizada da gestão preventiva. Isso porque a nova abordagem da NR-1 exige o mapeamento e o registo dos riscos ergonômicos nas diversas atividades desenvolvidas pelas empresas.
Oliveira pontua que a nova NR-1 traz mais rigor para análise e detalhamento técnico de fatores como:
- Postura inadequada;
- Repetitividade de movimentos;
- Sobrecarga física;
- Exigências cognitivas e emocionais.

Como Reduzir os Riscos Psicossociais
O ergonomista Marcelo Oliveira e a psicóloga Ana Paula Oliveira destacaram pontos que podem colaborar para o bem-estar dos colaboradores. Consequentemente, a partir da adoção dessas medidas nas empresas, há uma redução dos fatores de riscos psicossociais. A partir das respostas deles, desenvolvemos a lista a seguir:
1. Ambiente Saudável
Fomentar uma cultura organizacional e respeito, a inclusão e a valorização da diversidade, reduzindo comportamentos tóxicos e promovendo relações interpessoais positivas;
2. Segurança Psicológica
Garantir que o trabalhador possa expressar as próprias opiniões, tenha autonomia e uma rede de apoio;
3. Apoio Psicológico
Disponibilizar acesso a serviços de apoio psicológico ou programas de assistência ao trabalhador, criando canais seguros para conversas e pedidos de ajuda;
4. Qualidade de Vida no Trabalho
Ter espaços de descanso e relaxamento, incentivar a prática de atividades físicas ou de meditação para regulação emocional, e de hábitos alimentares saudáveis;
5. Equilíbrio Profissional/Pessoal
Incentivar práticas de desconexão fora do horário de trabalho, oferecendo horários flexíveis ou a possibilidade de teletrabalho ou trabalho híbrido, sempre que possível;
6. Capacitação de Lideranças
Promover a capacitação contínua de lideranças, por meio de programas específicos de formação de líderes, com foco na identificação de sinais de adoecimento pelo trabalho, como o burnout, estresse ou ansiedade;
7. Ajuste de Carga Mental Laboral
Planejar e avaliar continuamente a carga mental imposta por cada processo de trabalho;
8. Relacionamento Saudável
Estimular as lideranças a uma melhoria contínua quanto ao relacionamento interpessoal com os subordinados por meio de um relacionamento mais humanizado e empático, promovendo ferramentas de escuta ativa e apoio aos colaboradores;
9. Reconhecimento e Valorização Humana
Desenvolver ações voltadas para promover sentido e propósito no trabalho, além de senso de pertencimento. Ter iniciativas de reconhecimento e valorização do trabalhador, assim como fornecer suporte social.
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